Ivani Ribeiro, a consagrada autora de telenovelas da televisão Brasileira

POR MAURÍCIO NETO

Ivani Ribeiro foi uma de nossas maiores novelistas. Suas histórias encantaram gerações por décadas. Sua trajetória se confunde com a própria história da TV no Brasil. Se viva fosse, Ivani estaria completando 98 anos no dia 20 de fevereiro. Ivani não, Cleyde Alves de Freitas Ferreira, nascida em São Vicente, litoral de São Paulo. Cleyde adotou o pseudônimo Ivani em 1934, quando começou a cantar na Rádio Educadora, em São Paulo. O sobrenome Ribeiro foi uma homenagem ao poeta Oliveira Ribeiro Netto, que ela admirava.

Ivani Ribeiro, passou por várias rádios de São Paulo, atuando como cantora, atriz e produtora de programas de variedades e dramaturgia. Criou a “Hora infantil”, ainda na Rádio Educadora, com músicas e poemas. Na Rádio Difusora, cantou acompanhada por uma orquestra. Na Rádio Tupi, foi atriz do programa “As Mais Belas Cartas de Amor”. Trabalhando na Rádio Tupi, Ivani conheceu Dárcio Ferreira, locutor de sucesso na época. O amor nasceu naturalmente, e os colegas de trabalho se tornariam parceiros de uma vida toda: casaram-se em 17 de julho de 1942. Os dois nunca mais se separaram.

A transposição do rádio para a televisão foi natural. No momento da inauguração da TV no Brasil, Ivani já estava na TV Tupi de São Paulo. Em 1963 escreveu sua primeira novela diária, “Corações em Conflito”. O sucesso veio em seguida, com as novelas “Alma Cigana” e “A Moça que Veio de Longe”. Ivani Ribeiro é uma das minhas novelistas preferidas. Eu a conheci ainda criança, através da novela “Aritana”, da TV Tupi, exibida entre 1978 e 1979. Mas lembro da época em que passou “O Profeta”, “O Espantalho”, “A Viagem” e “A Barba Azul”, seus trabalhos anteriores.

Com o fim da Tupi, Ivani teve uma rápida passagem pela TV Bandeirantes (a Band), onde dois de seus antigos sucessos foram regravados (“A Deusa Vencida” e “O Meu Pé de Laranja Lima”) e onde ela escreveu duas tramas inéditas: “Os Adolescentes” e “Cavalo Amarelo”. Eu vi “Cavalo Amarelo” em uma de suas reprises. Uma novela deliciosa que nos brindava com a participação luxuosa de Dercy Gonçalves. Ivani Ribeiro só chegou à Globo depois de trinta anos de carreira na TV, tendo passado por quase todas as emissoras, com sucessos marcantes, principalmente na Excelsior e Tupi (“A Muralha”, “As Minas de Prata”, “Mulheres de Areia” e vários outros). Sua primeira novela na Globo foi “Final Feliz”, que estreou no final de 1982. Uma trama romântica que contrastava com as comédias que faziam sucesso às sete horas na época.

O curioso é que “Final Feliz” foi a única novela inédita de Ivani Ribeiro na Globo. Todos os seus demais trabalhos na emissora eram remakes ou adaptações de antigas novelas da autora. “Amor com Amor se Paga” (1984) era uma adaptação de “Camomila e Bem-Me-Quer”, novela apresentada pela Tupi entre 1972 e 1973. “A Gata Comeu” (1985) era um remake de “A Barba Azul” (Tupi, 1974-1975). “Hipertensão” (1986-1987), uma adaptação de “Nossa Filha Gabriela” (Tupi, 1971-1972). “O Sexo dos Anjos” (1989-1990), uma adaptação de “O Terceiro Pecado” (Excelsior, 1968). E “Mulheres de Areia” (1993) e “A Viagem” (1994), remakes das novelas homônimas, da Tupi.

Ivani Ribeiro era conhecida pela sua incrível capacidade de criação. Escreveu todo tipo de novela, abordou inúmeras temáticas – inclusive com merchandising social em uma época em que não existia este termo. Adaptações de radionovelas latinas, adaptações de clássicos da literatura e do cinema, novelas infanto-juvenis, tramas rurais ou urbanas, novelas de época e até de cunho espírita ou exotérico.  Ivani era uma escritora incansável, roteirizava novelas seguidas, sem descanso, e, às vezes, mais de uma ao mesmo tempo. Na segunda metade da década de 1960, ela escreveu treze novelas consecutivas para o horário das 19h30 da TV Excelsior – um feito impensável para os padrões de hoje, guardadas as devidas proporções.

Em muitos casos, Ivani escreveu uma novela e supervisionou outra ao mesmo tempo. Em 1974, enquanto ia ao ar “A Barba Azuil”, às sete horas na Tupi, ela supervisionou a trama das oito, “Os Inocentes”, também de sua autoria, mas escrita pelo marido, Dárcio. Outro exemplo: em 1972 escreveu para a Tupi “Camomila e Bem-Me-Quer”, enquanto ia ao ar “O Leopardo”, na TV Record, em que escrevia sob o pseudônimo Artur Amorim, para driblar a mídia, já que eram novelas para emissoras concorrentes.

Em 1976, Ivani deixou a TV Tupi para trabalhar para Silvio Santos, que ainda não tinha o SBT, mas produziu a novela “O Espantalho”, apresentada na Record e Tupi. Como o contrato da novelista com o “homem do baú” terminava apenas em 1980, e sem novelas para escrever, Ivani foi “emprestada” para a Tupi, para a qual escreveu “O Profeta” e “Aritana”.

Ivani Ribeiro faleceu em 17 de julho de 1995, aos 79 anos, de insuficiência renal provocada pelo diabetes, deixando dois filhos, Luís Carlos e Eduardo. Ivani se foi sem saber que seu marido, Dárcio, havia falecido vinte dias antes, no mesmo hospital onde ela estava internada. Antes de falecer, Ivani deixou pronto o argumento para uma nova novela, “Caminhos do Vento”, que estreou após sua morte, em 1996, com novo título: “Quem é Você”, desenvolvida por Solange Castro Neves e Lauro César Muniz.



Postar um comentário

0 Comentários